Episódio 012 – Pequena cirurgia em consultório médico: é mesmo seguro?

No episódio de hoje no podcast nós falamos sobre a realização de pequena cirurgia em consultório médico. Será que esse tipo de procedimento é mesmo seguro?

• Muitos pacientes me perguntam se é aconselhável realizar procedimentos de pequeno porte em consultório. Já me antecipo e digo que não sou a favor, apesar de conhecer médicos que têm essa prática como uma rotina. Neste episódio do podcast, vou expor algumas verdades e detalhes à respeito desse tipo de conduta e tema, que gera polêmica.
• Vejam, aqui me refiro a procedimentos cirúrgicos de fato, com algum tipo de anestesia local ou sedação, com algum tipo de injeção de substâncias e/ou incisões. Procedimentos médicos simples como troca de curativo, retirada de pontos, etc, não são o motivo deste episódio

O que é necessário para realizar uma pequena cirurgia em consultório médico?

• Bom, em primeiro lugar, o estabelecimento precisa ter um alvará especial do corpo de bombeiros e, o mais complexo, o da ANVISA – a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem como finalidade promover a proteção à saúde da população por intermédio do controle sanitário, produção e comercialização de produtos e serviços submetidos a esse órgão regulador, incluindo ambientes, processos, insumos e tecnologias a ele relacionados. A ANVISA é responsável por normatizar, criar regulamentos e dar suporte para todas as atividades de vigilância no país.
• Esse alvará significa que o local foi certificado por seguir todas as regras e normas predeterminadas pela ANVISA. A maioria desses detalhes estão descritos de forma minuciosa na Resolução Técnica (RDC) 50. Para citar algumas dessas determinações, temos:
  • Projeto diferenciado e aprovação;
  • Salas com tamanho específico;
  • Fluxo de pessoas e materiais;
  • DML (depósito de material de limpeza), área limpa versus contaminada;
  • Centro de Material Especial, e local e fluxo específico de esterilização de materiais;
  • Vestiário para troca de roupa;
  • Piso laminado impermeável com bordas arredondadas;
  • Sistema de coleta de material infectante e lavagem de roupa;
  • Aparelhos de primeiros socorros e desfibrilador.

Atenção à certificação das clínicas que realizam pequena cirurgia em consultório

Fica claro o extremo cuidado que a ANVISA tem em aprovar um ambiente desse tipo? Isso, no fundo, significa que existem diversas regras para que o paciente não seja colocado em risco, assim como os profissionais executantes, e o restante do prédio no qual aquele local está inserido. Infelizmente, muitos consultórios médicos no qual procedimentos cirúrgicos são realizados não têm essa certificação. Seja pela incapacidade em cumprir com as exigências, seja pela demora dos órgãos públicos, seja por fatores outros diversos. Você gostaria de ser colocado em risco? Claro que não, certo? Então se optar por esse tipo de procedimento, solicite os certificados ao profissional. Infelizmente muitas clínicas de linda aparência interna atuam sem isso de forma irresponsável.

Testes de hipersensibilidade – precisamos fazer?

• O teste de sensibilidade é uma técnica para diagnosticar alergias. Existem vários tipos de exposição a alérgenos. Eles podem ser feitos de maneiras diferentes. Entre os métodos mais comuns encontramos o de patch cutâneo, o de aplicação intradérmica de substâncias, e os de sangue. O objetivo seria evitar uma reação alérgica ou anafilática ou anafilactóide.

 

O que é uma reação anafilática?

• Anafilaxia é uma reação alérgica aguda potencialmente fatal mediada por Imunoglobulina I (IgE) que ocorre em pessoas previamente sensibilizadas quando são expostas novamente ao antígeno sensibilizador.
• A anafilaxia normalmente é desencadeada por fármacos (p. ex., antibióticos beta-lactâmicos, insulina, estreptoquinase, extratos alergênicos), alimentos (p. ex., nozes, ovos, frutos do mar), proteínas (p. ex., antitoxina para tétano, transfusões de sangue), venenos de animais, ou látex.
• Os sintomas podem incluir estridor, dispneia, sibilos e hipotensão. O diagnóstico é clínico. História de atopia não aumenta o risco de anafilaxia, mas aumenta o risco de morte quando a anafilaxia ocorre.
• O tratamento é com adrenalina. Broncoespasmo e edema das vias respiratórias superiores podem exigir beta-agonistas inaláveis ou injetáveis e, às vezes, entubação endotraqueal. Hipotensão persistente exige líquidos IV e, às vezes, vasopressores.

E o que seria uma reação anafilactoide?

• As reações anafilactoides são clinicamente indiferenciáveis da anafilaxia, mas não contêm IgE e não exigem sensibilização prévia. Elas ocorrem via estimulação direta dos mastócitos ou via complexos imunes que ativam o complemento.
• Os gatilhos mais comuns das reações anafiláticas são meios de contraste radiopacos iodados, ácido acetilsalicílico e outros AINEs, opioides, anticorpos monoclonais, exercício.

Por que pequena cirurgia em consultório é atrativo para muitas pessoas: 5 pontos a favor?

• Mas então com tudo isso descrito, por que algumas pessoas procuram por esse tipo de procedimento?

1. Praticidade: não demanda internação, feito de forma “ambulatorial”, alta após o procedimento, evita falta no trabalho.
2. Custo: em geral, o custo é menor pois se usa menos material e menor estrutura que a hospitalar.
3. Medo: da anestesia em hospital.
4. Sigilo: em teoria haveria menor exposição desse indivíduo do que dentro de um hospital, mesmo que seja respeitado o sigilo médico em qualquer modalidade.
5. Desconhecimento dos riscos: quando não sabemos dos riscos de algo, tendemos a ser mais favoráveis a ele.

Quais os pontos contra à pequena cirurgia em consultório e por que eu não faço?

• A meu ver, os pontos contrários contêm riscos elevados demais para justificar os possíveis benefícios acima. Cito aqui os pontos mais importantes que rebateriam os descritos acima:

1. Fazer em ambiente hospitalar não implica em perder mais dias de trabalho ou horas pelo procedimento. Acredito inclusive que em hospitais de ponta há ganho de velocidade no procedimento pela tranquilidade do paciente no momento do procedimento.
2. Apesar do custo em hospital ser realmente mais alto, a operadora de saúde o cobre. Se realizado de forma particular, a meu ver é um custo que se justifica pela segurança. Algumas coisas em saúde não têm preço.
3. As técnicas de anestesia da atualidade são extremamente seguras, e a sedação, que é a modalidade habitualmente empregada nesse tipo de pequena cirurgia, é eficaz e de mínimo risco ao paciente.
4. Mesmo em ambiente hospitalar, o paciente passa poucas horas na instituição e seu sigilo é totalmente respeitado.
5. O risco de uma reação anafilática ou anafilactoide em consultório é baixa. Entretanto, se isso ocorrer, o desfecho pode ser gravíssimo. E aí o que era pra sair barato saiu muito caro, às vezes custando a vida de um paciente que muitas vezes nem foi avisado sobre isso.

A opinião de um médico precavido…

• Pelo descrito acima, respondo ao nosso paciente: eu não realizo pequenos procedimentos em consultório. Não corro esse risco e não coloco meus pacientes em risco de forma alguma. Já deixaram de usar meus serviços algumas vezes por esse motivo e não me arrependo, sigo meus valores e princípios.

• Ouça o episódio e aprenda mais! Deixe seus comentários e compartilhe se gostou!

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